19/09/2010

És reino a que o coração se sujeita

Se te censuram, não é teu defeito,
Porque a injúria os mais belos pretende;
Da graça o ornamento é vão, suspeito,
Corvo a sujar o céu que mais esplende.
 Enquanto fores bom, a injúria prova
Que tens valor, que o tempo te venera,
Pois o Verme na flor gozo renova,
 E em ti irrompe a mais pura primavera.
 Da infância os maus tempos pular soubeste,
Vencendo o assalto ou do assalto distante;
 Mas não penses achar vantagem neste
 Fado, que a inveja alarga, é incessante.
 Se a ti nada demanda de suspeita,
És reino a que o coração se sujeita.

William Shakespeare

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