Te escrevo com
um cigarro aceso e uma xícara de chá de boldo. A escrivaninha é muito antiga,
daquelas que têm uma tampa, parece piano. Tem um pôster com Garcia Lorca na
minha frente. Um retrato enorme de Virginia Woolf. E posso ver na estante assim,
de repente, todo o Proust, e muito Rimbaud, e Verlaine, Faulkner, Ítalo Svevo,
William Blake. Umas reproduções de Picasso. Outras de Da Vinci. Um biscuit com
um pierrô tão patético. Uma pedra esotérica ainda de Stonehenge, Inglaterra, uma
caixinha indiana. Todos os meus pedaços aqui.
Cansada, cansada. Quase não dormi. E não consigo tirar você da
cabeça. Estou te escrevendo porque não consigo tirar você da cabeça. Hesito em
dizer qualquer coisa tipo me-perdoe ou qualquer coisa assim. Mas quero te contar
umas coisas. Mesmo que a gente não se veja mais. Penso em você, penso em você
com força e carinho. Axé.
Estou te querendo muito bem neste minuto.
Tinha vontade que você estivesse aqui e eu pudesse te mostrar muitas coisas,
grandes, pequenas, e sem nenhuma importância, algumas.
Fique feliz, fique bem feliz, fique bem
claro, queira ser feliz. Você é muito lindo e eu tento te enviar a minha melhor
vibração de axé. Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se
transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para
você, para mim.
Com cuidado, com carinho grande, te abraço
forte e te beijo,
p.s.: Te escrevo, enfim, me ocorre agora, porque nem você nem eu somos descartáveis. E amanhã tem sol.
(Caio Fernando Abreu)
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