Uma mulher não
perdoa uma única coisa no homem: que ele não ame com coragem. Pode ter os
maiores defeitos, atrasar-se para os compromissos, jogar futebol no sábado com
os amigos, soltar gargalhada de hiena, pentear-se com franjinha, ter pêlos nas
costas e no pescoço, usar palito de dente, trocar os talheres de um momento para
outro. Qualquer coisa é admitida, menos que não ame com coragem. Amar com
coragem não é viver com coragem. É bem mais do que estar aí. Amar com coragem
não é questão de estilo, de gosto, de opinião. Não se adquire com a família,
surge de uma decisão solitária. Amar com coragem é caráter. Vem de uma
obstinação que supera a lealdade. Vem de uma incompetência de ser diferente.
Amar para valer, para dar torcicolo. Não encontrar uma desculpa ou um pretexto
para se adaptar, para fugir, para não nadar até o começo do corpo. Não usar
atenuantes como “estou confuso”. Não se diminuir com a insegurança, mas se
aumentar com a insegurança. Não se retrair perante os pais. Não desmarcar um
amor pela amizade. Não esquecer de comentar pelo receio de ser incompreendido.
Não esquecer de repetir pela ânsia da claridade. Amar como se não houvesse tempo
de amar. Amar esquisito, de lado, ainda amar. Amar atrasado, com a respiração
antecipando o beijo. Amar com fúria, com o recalque de não ter sido assim antes.
Amar decidido, obcecado, como quem troca de identidade e parte a um longo
exílio. Amar como quem volta de um longo exílio... Amar com coragem, só
isso.
Fabrício
Carpinejar
Um comentário:
A mais pura verdade...
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