"Vasculhando nas memórias algum assunto,
encontrei a carta que eu rabisquei na capa de um livro: “pra você”, era o
destinatário. Não sei por que não mandei, talvez não quisesse passar a limpo o
passado. Em letras garrafais eu te dizia: “acertei o caminho não porque segui as
setas, mas porque desrespeitei todas as placas de aviso”. E achei curioso eu
usar essa metáfora sem nem ao certo saber o que queria te dizer com isto.E
depois de repousadas aquelas palavras eu percebi quanta coisa eu escrevi pra
você, querendo dizer pra mim. Porque eu jamais chegaria aonde cheguei se só
andasse em linha reta. Tive que voltar atrás, andar em círculos, perder dias,
perder o rumo, perder a paciência e me exaurir em tentativas aparentemente
inúteis pra encontrar um quase endereço, uma provável ponte: a entrada do
encontro.Você tão ocupado com seus mapas, tão equipado com sua bússola, demorou
tanto, fez sinais de fumaça e não veio. Você simplesmente não veio. Mas me
ensinou a intuir caminhos certos, a confiar nos passos, a desconfiar dos
atalhos. Porque eu estava do outro lado e só. Sem amparo. Mas caminhava.
(…)"
Do outro lado da ponte - Marla de
Queiroz
Nenhum comentário:
Postar um comentário