“Eu sei que por trás desse universo de
aparências, das diferenças todas, a esperança é preservada. Nas xícaras sujas de
ontem, o café de cada manhã é servido. Mas existe uma palavra que eu não suporto
ouvir e dela não me conformo. Eu acredito em tudo, mas eu quero você
agora.
Eu te amo pelas tuas faltas e pelo teu
corpo marcado, pelas tuas cicatrizes, pelas tuas loucuras todas, minha vida. Eu
amo as tuas mãos, mesmo que por causa delas eu não saiba o que fazer das minhas.
Amo o teu jogo triste, as tuas roupas sujas é aqui em casa que eu lavo. Eu amo a
tua alegria. Mesmo fora de si, eu te amo pela tua essência, até pelo que você
poderia ter sido, se a maré das circunstâncias não tivesse te banhado nas águas
do equívoco.
Eu te amo nas horas infernais e na vida
sem tempo, quando sozinha bordo mais uma toalha de fim de semana. Eu te amo
pelas crianças e pelas futuras rugas. Te amo pelas tuas ilusões perdidas e pelos
teus sonhos inúteis. Amo o teu sistema de vida e morte. Eu te amo pelo que se
repete e que nunca é igual. Eu te amo pelas tuas entradas, saídas e bandeiras.
Te amo desde os teus pés até o que te escapa. Eu te amo de alma pra alma e mais
que as palavras, ainda que seja através delas que eu me defenda, quando digo que
te amo mais que o silêncio dos momentos difíceis quando o próprio amor
vacila.”
(Maria
Bethânia)
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