06/10/2012

Sexo e Amizade

Era desconcertante, mas me excitava a forma como me ele olhava: era um misto de quem procura poesia na poeta e espera algo mais misterioso na mulher que se despe a sua frente. Mas eu sou falante, risonha e brinco demais na maior parte do tempo. Ele ria, alcançava o raciocínio dos meus comentários e rebatia lindamente. Apenas parecia não esperar que eu me despisse com tanta praticidade sem fazer muitos rodeios, pois eu sabia que faríamos sexo, tinha ido visitá-
lo para isto. Claro que a poeta também estava em ação, não resisto: sempre acabo sussurrando alguma coisa erótica nos ouvidos, durante o ato ou enquanto me prolongo nas carícias.

Ele era interessante, interessado. Mas não seria nada além de um parágrafo na minha “autobiografia não autorizada”. Não era uma questão de quem estava “usando” quem, seria só uma noite de sexo para mim, talvez para ele também. Sexo com alguém excitante e viril, inteligente, atencioso, mas que parecia mitificar demais a poeta que escreveu o livro. Leu a minha flor de dentro mais explícita, mas esta não tinha sido inspirada nele.
As coisas se sucederam como se sucedem as noites de sexo bom. Apenas isto. E eu continuei ilesa, mas com mais uma lembrança bonita. Não é frieza, não é desacato ao romantismo ou falta de lirismo, é só uma forma lúcida de expor a realidade: “sexo e amizade, topa?”
E eu poderia ter me apaixonado, assim como ele: nunca saberemos. Mas o fato de ter sido muito bom não foi o suficiente. Talvez eu me apaixonasse mesmo que não tivesse sido. (Eu me apaixono pela pessoa antes do sexo, eu me apaixono por um detalhe anticonvencional, às vezes pelos defeitos ou pelo aspecto considerado mais banal).
De qualquer forma, ele não me telefonou no dia seguinte, e eu já sabia: não dei a ele meu contato... Foi apenas mais um romance desses que são eternos... durante um dia.

Marla de Queiroz

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