Era
desconcertante, mas me excitava a forma como me ele olhava: era um misto de quem
procura poesia na poeta e espera algo mais misterioso na mulher que se despe a
sua frente. Mas eu sou falante, risonha e brinco demais na maior parte do tempo.
Ele ria, alcançava o raciocínio dos meus comentários e rebatia lindamente.
Apenas parecia não esperar que eu me despisse com tanta praticidade sem fazer
muitos rodeios, pois eu sabia que faríamos sexo, tinha ido visitá-
lo para isto. Claro que a poeta também estava em ação,
não resisto: sempre acabo sussurrando alguma coisa erótica nos ouvidos, durante
o ato ou enquanto me prolongo nas carícias.
Ele era interessante, interessado. Mas não
seria nada além de um parágrafo na minha “autobiografia não autorizada”. Não era
uma questão de quem estava “usando” quem, seria só uma noite de sexo para mim,
talvez para ele também. Sexo com alguém excitante e viril, inteligente,
atencioso, mas que parecia mitificar demais a poeta que escreveu o livro. Leu a
minha flor de dentro mais explícita, mas esta não tinha sido inspirada
nele.
As coisas se sucederam como se sucedem as
noites de sexo bom. Apenas isto. E eu continuei ilesa, mas com mais uma
lembrança bonita. Não é frieza, não é desacato ao romantismo ou falta de
lirismo, é só uma forma lúcida de expor a realidade: “sexo e amizade,
topa?”
E eu poderia ter me apaixonado, assim como ele:
nunca saberemos. Mas o fato de ter sido muito bom não foi o suficiente. Talvez
eu me apaixonasse mesmo que não tivesse sido. (Eu me apaixono pela pessoa antes
do sexo, eu me apaixono por um detalhe anticonvencional, às vezes pelos defeitos
ou pelo aspecto considerado mais banal).
De qualquer forma, ele não me telefonou no dia
seguinte, e eu já sabia: não dei a ele meu contato... Foi apenas mais um romance
desses que são eternos... durante um dia.
Marla de Queiroz
Nenhum comentário:
Postar um comentário