A diferença é que agora já não somos pouco mais de 1 metro e é suposto sabermos muita coisa, ligarmos ao que importa, ou ao que é suposto importar, ouvir só o que és suposto, reagir como é devido e nunca fraquejar. Porque os crescidos sabem coisas, muitas coisas, os crescidos sabem tudo como é e deixa de ser, por isso já não é suposto sentirem, é tudo composto por um turbilhão de: “não ligues”, “já sabes que isso não importa”, “não podes pensar isso” ou mesmo “isso que sentes não faz sentido nenhum porque já sabes como são as coisas”.
No mundo dos crescidos já sabemos que o mundo é mesmo assim, um toca para a frente, engolir em seco, guardar por entre o armazenar de sentimento e vivências que se acumulam sem espaço mas que não podem sair cá para fora. “Já sabes que o mundo é assim…”, pois é, somos crescidos, devíamos saber muito e devíamos sentir pouco, porque em cada sensação há sempre uma voz que nos diz que é hora de seguir em frente, o espectáculo das aparências está à espera.
Medo, isso têm as crianças do escuro e dos monstros, quando crescemos e temos medo do escuro é suposto acendermos uma luz e superar esse medo, porque afinal já somos crescidos, deve ser porque já pagamos a conta da electricidade, por isso luz acesa ou apagada deve ser responsabilidade nossa. Os monstros, então esses quando crescemos temos que saber que eles não existem, e mesmo que de vez em quando nos apareçam umas formas de gente que só se assemelham mesmo a monstros, é passar sempre, é olhar para eles e pensar que monstros não existem, mesmo que tudo em nós nos transmita que fugir a correr era a melhor hipótese.
Não se sente, somos crescidos, quer dizer, é suposto dizer que sentimos, até que sentimos melhor, somos crescidos, Upi! Somos crescidos, mas a verdade é que sempre que estamos a sentir o mundo dos crescidos nos diz que o mundo é mesmo assim, que isso que estamos a sentir não é para sentir, acabamos por ter mais obediência do que quando éramos crianças, porque agora, já sabemos como as coisas são, por isso não podemos chorar de tristeza nem nos encolhermos de medo, somos crescidos, e isso, nada dessas coisas de sentir são coisas de crescidos…
Que vontade de poder dizer de vez em quando que o escuro me assusta, que precisava mesmo que alguém me tirasse aquele monstro da frente, que sinto uma grande tristeza perante a mudança e o desconhecido, que estou desapontada porque não me levaram a brincar ou que estou desgostosa porque o meu gelado caiu ao chão…saudades de sentir, sem ser suposto saber nada…
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