Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque – a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras – e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos!
Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso.
Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram.
Tudo, tudo por não estarem mais distraídos”.
Clarice Lispector
Um comentário:
Olá!Boa tarde!
Tudo bem?
Se nós, pudéssemos além de entender, colocar em prática tamanha sabedoria……...mas a angústia de estarmos vivos nos faz perder os melhores momentos de nossas vidas….senão perdê-los, nem percebê-los…distraídos,que a felicidade está bem perto...
Obrigado pelo carinho da visita!
Boa quarta!
Beijos
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