Hoje eu diria qualquer coisa se você telefonasse. Por dentro também eu estava
preparado para dizer, um pouco porque eu não agüento mais ficar esperando toda
hora você telefonar ou aparecer, e quando você telefona ou aparece com aquelas
maças eu preciso me cuidar para não assustar você e quando você pergunta como
estou, mordo devagar uma das maçãs que você me traz e cuido meus olhos para não
me trairem e não te assustarem e não ficarem querendo entrar demais no de dentro
dos teus olhos, então eu cuido devagar tudo que digo e todo movimento, porque eu
quero que você venha outras vezes e eles dizem que se eu me mostrar como
realmente sou você vai ficar apavorado e nunca mais vai aparecer nem telefonar —
eu não agüento mais não me mostrar como sou."
Caio
Fernando de Abreu (trecho de Carta para além muro)
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