"Tenho sido acometido constantemente pelo inédito, pelo inesperado, pela
novidade.
Nem mesmo eu sabia o quanto estava precisando de novos ares, novos
lugares, novas histórias pra contar. Ano passado foi bom, mas repeti demais,
permaneci demais em situações que eu sabia que dariam errado desde o começo.
Muito disse, muito senti, estraguei uma ou outra coisa, mas sobrevivi. Qualquer
outro caminho que eu
tivesse seguido não me teria trazido até o agora. Eu estou gostando do agora. E
isso só me deixa mais ansioso pelo que me está reservado no depois. Parei de
caminhar pela marquise, com medo da chuva. Me deixei atingir por raios. E sempre
tem um ou outro que é forte o suficiente pra te fazer o coração parar, pra
voltar a bater ainda mais forte. É intensa, a vida de quem corre na chuva, sem
desviar das poças d’água. É imprevisível, a vida de quem caminha sem medo de
escorregar, de olhos fixos no horizonte, desatento às pedras no chão. Os tombos
viram cicatrizes e, em seus pontos recém costurados, se pode ler uma porção de
coisas. E entre “não faça isso” e “faça aquilo”, a gente passa a caminhar por
estradas cada vez mais estreitas, quase claustrofóbicas. São tantas as lições
que a vida nos dá, que, por vezes, vemos nosso mundo se restringir a minúsculos
cubículos cercados por instransponíveis muralhas. Assim a gente pára de
caminhar, e passamos a viver em um eterno ciclo repetitivo. E é quando essa
situação se transforma numa chaga insuportável, a gente apalpa as próprias
costas e descobre que somos dotados de asas. Lá de cima, a gente pode acompanhar
todos os caminhos que deixamos de percorrer, por medo de colecionar novas - e
mais doloridas - cicatrizes. Tomados pelo arrependimento, descobrimos que nossa
estrada não é de duas mãos"
Lucas Silveira
Nenhum comentário:
Postar um comentário